Foi em ambiente de festa, sem lamentos nem queixas, que decorreu na passada segunda-feira o XVI Encontro Anual dos Produtores de Pêra Rocha (ANP). Num jantar servido num armazém, rodeado de máquinas calibradoras e com menu baseado em produtos regionais, juntaram-se 200 pericultores (produtores de pêra) para celebrar mais um bom ano de produção e venda de pêra-rocha.
Nas conversas à mesa falou-se da crise, claro, mas nos discursos oficiais ninguém pediu subsídios nem o ministro da Agricultura, António Serrano, que esteve presente, ouviu quaisquer reivindicações de uma classe habitualmente atrita a pedir apoios.
Os números são expressivos: em 2010 Portugal produziu 171 mil toneladas de pêra-rocha, das quais exportou 80 mil toneladas, sobretudo para o Reino Unido (27 por cento do total de exportações), França (25 por cento) e Brasil (24 por cento). O quarto país de destino já fica a uma diferença abissal dos três primeiros - é a Rússia, com 5,4 por cento das exportações, seguido da Irlanda, com 5,1 por cento.
União fez a força
Torres Paulo, presidente da ANP, diz que na campanha do ano passado facturaram-se 200 milhões de euros, dos quais 150 no mercado externo. Esta associação representa 2500 pericultores, responsáveis por um volume de vendas de 120 milhões de euros. Quatro delas - Unirocha, Coopval (ambas do Cadaval), Granfer (Óbidos) e Primofruta (Bombarral) - venderam 44 mil toneladas para o estrangeiro, o que significa 54 por cento das exportações.
A associação de pequenos produtores individuais em cooperativas ou sociedades por quotas, e a fusão de empresas agrícolas para ganharem maior massa crítica e obterem economias de escala, tem sido um dos segredos do êxito, bastante elogiado por António Serrano. "Associaram-se, ganharam dimensão e souberam projectar-se", disse o ministro, para quem este modelo deveria ser replicado para outros sectores como os hortícolas e as flores.
Numa época em que não basta pôr as pereiras a produzir pêra-rocha, a criação de valor passa também pela competência técnica, pelo domínio dos circuitos de comercialização e pelo marketing e publicidade. E essa é outra das explicações pelas quais o sector triplicou em cinco anos o volume de exportações. Uma das inovações tecnológicas são as câmaras de atmosfera controlada, que substituem as de frio, onde a fruta é mantida sem oxigénio, podendo conservar-se durante muitos meses com as mesmas características de quando acaba de ser colhida. Por outro lado, os agricultores sujeitaram-se a exigências invulgares noutros congéneres de outras áreas. Para além da colocação de retretes amovíveis nos pomares durante as colheitas, as inúmeras certificações obrigam a procedimentos rigorosos na forma de cuidar dos pomares, no manuseamento das pêras e no seu armazenamento e transporte.
Os próprios pericultores são obrigados a fazer cursos de reciclagem para se poderem manter as certificações ambientais, nas colheitas é obrigatório o uso de luvas e nas centrais fruteiras há roupa apropriada, touca para a cabeça, luvas e uma forte implementação de hábitos de higiene. "Depois disso a fruta já pode ir para o supermercado, onde qualquer um lhe pode tocar nas prateleiras, mesmo que tenha as mãos sujas", ironizava um dos agricultores durante o jantar.
Visto país a país, Portugal é o maior mercado da pêra-rocha, absorvendo uma quarta parte da produção nacional. As grandes e médias superfícies asseguram 64 por cento do escoamento e a indústria, sobretudo a dos sumos, 19 por cento. É aqui que se podem situar alguns lamentos. "Tendo em conta a importância do mercado português, o país está em recessão e isso é um problema. O que nos levou a apostar nas exportações foi o aumento da produção de pêra-rocha e a capacidade dos nossos empresários em levar este fruto de Portugal para numerosos outros mercados", diz Torres Paulo, que tem notado um aumento do consumo de pêra-rocha no nosso país nos últimos anos, mas que é inferior ao crescimento da capacidade produtiva.
Um fruto sem cópias
Por outro lado, as pessoas estão cada vez mais sensíveis à saúde e à importância da fruta na dieta alimentar, o que, para este dirigente, dá resposta ao crescimento das produções. E há outro factor decisivo: a pêra-rocha é única.
"Não existe em mais lado nenhum. Embora existam experiências de produção no Brasil e em Espanha, o fruto que daí resulta tem características diferentes do que é produzido na nossa região". Vanda Rodrigues, gerente da CPF - Central de Produção e Comercialização de Hortofrutícolas, confirma esta vantagem comparativa de um fruto que não só não se produz no estrangeiro, como em Portugal se circunscreve à Região Oeste. Tem a ver com o clima e as condições dos solos, explica.
Esta empresa é também um exemplo de associação de produtores. Foi criada no Bombarral em 1997 e tem dez sócios que pertencem a este concelho e aos de Cadaval, Alcobaça, Caldas da Rainha, Torres Vedras e Mafra. No total, são dez explorações com 205 hectares que se situam nesses concelhos. Noventa e cinco por cento da produção é pêra-rocha.
Em 2010 a empresa produziu 10.500 toneladas e facturou 8,5 milhões de euros. Oitenta por cento da sua produção tem como destino o Brasil, cinco por cento vai para a Rússia e o mercado nacional tem uma quota de 15 por cento. "É sempre um risco estarmos tão dependentes do Brasil, mas temos lá clientes desde o Norte ao Sul do país e esta foi uma opção dos nossos sócios que, antes de se juntarem, vendiam para lá".
Um sinal de que o sector vive dias felizes e tem credibilidade é o acesso ao crédito. "A banca bate-nos à porta", diz Torres Paulo. Coisa rara num período em que o crédito escasseia. "Isso significa que somos estáveis e temos futuro porque os nossos empresários reinvestem o que ganham em vez de retirarem dividendos", refere.
Nas conversas à mesa falou-se da crise, claro, mas nos discursos oficiais ninguém pediu subsídios nem o ministro da Agricultura, António Serrano, que esteve presente, ouviu quaisquer reivindicações de uma classe habitualmente atrita a pedir apoios.
Os números são expressivos: em 2010 Portugal produziu 171 mil toneladas de pêra-rocha, das quais exportou 80 mil toneladas, sobretudo para o Reino Unido (27 por cento do total de exportações), França (25 por cento) e Brasil (24 por cento). O quarto país de destino já fica a uma diferença abissal dos três primeiros - é a Rússia, com 5,4 por cento das exportações, seguido da Irlanda, com 5,1 por cento.
União fez a força
Torres Paulo, presidente da ANP, diz que na campanha do ano passado facturaram-se 200 milhões de euros, dos quais 150 no mercado externo. Esta associação representa 2500 pericultores, responsáveis por um volume de vendas de 120 milhões de euros. Quatro delas - Unirocha, Coopval (ambas do Cadaval), Granfer (Óbidos) e Primofruta (Bombarral) - venderam 44 mil toneladas para o estrangeiro, o que significa 54 por cento das exportações.
A associação de pequenos produtores individuais em cooperativas ou sociedades por quotas, e a fusão de empresas agrícolas para ganharem maior massa crítica e obterem economias de escala, tem sido um dos segredos do êxito, bastante elogiado por António Serrano. "Associaram-se, ganharam dimensão e souberam projectar-se", disse o ministro, para quem este modelo deveria ser replicado para outros sectores como os hortícolas e as flores.
Numa época em que não basta pôr as pereiras a produzir pêra-rocha, a criação de valor passa também pela competência técnica, pelo domínio dos circuitos de comercialização e pelo marketing e publicidade. E essa é outra das explicações pelas quais o sector triplicou em cinco anos o volume de exportações. Uma das inovações tecnológicas são as câmaras de atmosfera controlada, que substituem as de frio, onde a fruta é mantida sem oxigénio, podendo conservar-se durante muitos meses com as mesmas características de quando acaba de ser colhida. Por outro lado, os agricultores sujeitaram-se a exigências invulgares noutros congéneres de outras áreas. Para além da colocação de retretes amovíveis nos pomares durante as colheitas, as inúmeras certificações obrigam a procedimentos rigorosos na forma de cuidar dos pomares, no manuseamento das pêras e no seu armazenamento e transporte.
Os próprios pericultores são obrigados a fazer cursos de reciclagem para se poderem manter as certificações ambientais, nas colheitas é obrigatório o uso de luvas e nas centrais fruteiras há roupa apropriada, touca para a cabeça, luvas e uma forte implementação de hábitos de higiene. "Depois disso a fruta já pode ir para o supermercado, onde qualquer um lhe pode tocar nas prateleiras, mesmo que tenha as mãos sujas", ironizava um dos agricultores durante o jantar.
Visto país a país, Portugal é o maior mercado da pêra-rocha, absorvendo uma quarta parte da produção nacional. As grandes e médias superfícies asseguram 64 por cento do escoamento e a indústria, sobretudo a dos sumos, 19 por cento. É aqui que se podem situar alguns lamentos. "Tendo em conta a importância do mercado português, o país está em recessão e isso é um problema. O que nos levou a apostar nas exportações foi o aumento da produção de pêra-rocha e a capacidade dos nossos empresários em levar este fruto de Portugal para numerosos outros mercados", diz Torres Paulo, que tem notado um aumento do consumo de pêra-rocha no nosso país nos últimos anos, mas que é inferior ao crescimento da capacidade produtiva.
Um fruto sem cópias
Por outro lado, as pessoas estão cada vez mais sensíveis à saúde e à importância da fruta na dieta alimentar, o que, para este dirigente, dá resposta ao crescimento das produções. E há outro factor decisivo: a pêra-rocha é única.
"Não existe em mais lado nenhum. Embora existam experiências de produção no Brasil e em Espanha, o fruto que daí resulta tem características diferentes do que é produzido na nossa região". Vanda Rodrigues, gerente da CPF - Central de Produção e Comercialização de Hortofrutícolas, confirma esta vantagem comparativa de um fruto que não só não se produz no estrangeiro, como em Portugal se circunscreve à Região Oeste. Tem a ver com o clima e as condições dos solos, explica.
Esta empresa é também um exemplo de associação de produtores. Foi criada no Bombarral em 1997 e tem dez sócios que pertencem a este concelho e aos de Cadaval, Alcobaça, Caldas da Rainha, Torres Vedras e Mafra. No total, são dez explorações com 205 hectares que se situam nesses concelhos. Noventa e cinco por cento da produção é pêra-rocha.
Em 2010 a empresa produziu 10.500 toneladas e facturou 8,5 milhões de euros. Oitenta por cento da sua produção tem como destino o Brasil, cinco por cento vai para a Rússia e o mercado nacional tem uma quota de 15 por cento. "É sempre um risco estarmos tão dependentes do Brasil, mas temos lá clientes desde o Norte ao Sul do país e esta foi uma opção dos nossos sócios que, antes de se juntarem, vendiam para lá".
Um sinal de que o sector vive dias felizes e tem credibilidade é o acesso ao crédito. "A banca bate-nos à porta", diz Torres Paulo. Coisa rara num período em que o crédito escasseia. "Isso significa que somos estáveis e temos futuro porque os nossos empresários reinvestem o que ganham em vez de retirarem dividendos", refere.
In Público online - 16 de Maio de 2011
Mensagem do Presidente da JSD Bombarral
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