As diferenças de
género entre jovens têm vindo a atenuar-se cada vez mais. Ao contrário do que
acontecia na geração dos nossos pais e até mesmo dos nossos avós, as raparigas
estão a igualar os rapazes tanto a nível do associativismo jovem, como no seu
papel na vida escolar e até em casa. Apesar de tudo isto acho que seria importante
a escola continuar a desempenhar um papel preponderante, com uma forte
abordagem em todas estas questões de igualdade de género.
Ao longo dos anos
os dirigentes da Associação de Estudantes do Bombarral têm sido maioritariamente
rapazes, talvez porque se tenham sempre chegado à frente e mostrado interesse
em dirigir a Associação ou até porque existia o estereótipo de que os rapazes atrairiam
mais votos. Felizmente, esta tendência quebrou-se no ano letivo passado (2014- 2015)
em que uma rapariga assumiu as funções de Presidente da Direção. Este ano,
apesar do Presidente ser um rapaz, existe uma excelente representação feminina,
que ajuda todo o mecanismo da Associação a funcionar, em todos os restantes
órgãos, tanto como vice-presidentes da Direção, eu própria como Presidente da
Assembleia Geral e também como vogais, relatoras e secretárias.
Quero ainda
salientar que até em alguns dos órgãos máximos da educação tanto do Agrupamento,
no Conselho Pedagógico, como na Câmara Municipal, no Conselho de Educação, é
precisamente no feminino que se representam todos os estudantes. Enquanto
dirigente associativa nunca encontrei nenhum tipo de obstáculo no meu trabalho
apenas pelo facto de pertencer ao género feminino. Antes pelo contrário, tenho
até assistido a uma certa facilidade em conseguir comunicar com as pessoas e a
estabelecer parcerias com outros organismos, sinto até que existe uma abertura
muito maior quando existe uma jovem a responsabilizar-se pelo projeto. Porquê? Porque
acho que existe, erradamente, o estereótipo de que as raparigas são, por norma,
mais responsáveis, cumpridoras, rigorosas e organizadas, talvez por isso se
deposite nelas mais confiança e ainda se mantenha esta diferença.
Fora da escola,
pertenço também à comissão política da JSD do Bombarral, o que me permite
observar a adesão e o interesse crescente das jovens mulheres pelo mundo da política,
pela liderança, pela mudança e por fazer cada vez mais e melhor. Na nossa
concelhia, por exemplo, existe uma discrepância quase nula entre o número de
rapazes e raparigas, assim como nas estruturas distrital e nacional essa
diferença de género também tende naturalmente a desaparecer sem que para isso
se tenham de aplicar obrigatoriamente quotas para se garantir a representatividade
de ambos os sexos.
Existem ainda
pequenas desigualdades a serem combatidas no quotidiano dos jovens.
Por exemplo, as
saídas à noite em que existem bares que fazem distinção entre géneros e cobram
entrada apenas a rapazes, ou nos namoros onde socialmente é mais aceite um
jovem ter tido várias namoradas, ao contrário do que acontece nas jovens.
Por outro lado, já
houve um enorme progresso nas mentalidades e uma grande mudança na forma de
educar as crianças, não estando destinadas apenas às jovens as tarefas domésticas,
nem sendo apenas permitido aos jovens poder sair à noite. Realço ainda que até nos
comportamentos de risco como o consumo de drogas ou álcool, que anteriormente
eram comportamentos tipicamente masculinos, agora são comportamentos de ambos
os sexos. Contudo, tais comportamentos não deixam de ser preocupantes.
Em suma, no passado
existiu um longo e árduo caminho que foi percorrido para os jovens poderem
usufruir desta liberdade equilibrada entre os géneros. Não acredito que alguma
vez consigamos chegar à igualdade plena. Quando tentamos combater uma desigualdade
automaticamente a balança entre os géneros volta a desajustar-se no prato oposto.
No futuro desejo que estas questões nunca sejam esquecidas pelos mais novos e
que continuem sempre a lutar no sentido de nos aproximarmos cada vez mais da
tão esperada igualdade.
(intervenção no debate "A Mulher e a Sociedade", realizado no Auditório do Agrupamento de Escolas Fernão do Pó. 14.03.2016).
Cláudia Pereira
- Presidente da Mesa da Assembleia Geral de alunos do Agrupamento de Escolas Fernão do Pó
- Membro da Comissão Política da Juventude Social Democrata do Bombarral